Sustentabilidade na Construção Civil
A prática de ações sustentáveis traz valor agregado para a empresa e é um diferencial no mercado, assim como a chave para o desenvolvimento da construção civil está na preocupação com o que se entrega para a sociedade. Essa é uma perspectiva real e que precisa ser percebida, com urgência, pelas empresas. Atualmente, alinhar estratégias com a Agenda 2030, da ONU, que contém os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), é, não somente o caminho para um mundo verde, mas também uma forma de sobrevivência para as corporações.
Neste sentido, para promover a agenda de desenvolvimento global, com os ODS beneficiando todas as pessoas, é preciso integrar questões ambientais, sociais e econômicas para se alcançar as metas de desenvolvimento. Os gestores precisam encarar esse desafio e pensar no papel da empresa nesse processo.
No Seconci-Rio, a adesão ao Pacto Global – que é, justamente, a proposta da ONU para que as empresas adotem políticas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade -, reforçou o olhar para os ODS. “Todo o nosso planejamento de produtos e serviços está alinhado aos ODS. É um compromisso da diretoria e procuramos otimizar processos, contribuir para melhorias e minimizar o que traz impactos negativos”, afirma o presidente da entidade, Ayrton Xerez.
Disseminar essa agenda junto às empresas também é uma ação fundamental. A gerente de relações institucionais do Seconci-Rio e responsável pelo Fórum de Ação Social e Cidadania (Fasc), da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Ana Cláudia Gomes, destaca que este compromisso vem sendo assumido, efetivamente, junto à indústria da construção. “Levamos essa pauta para as empresas, fazendo um trabalho de esclarecimento quanto à importância dessa iniciativa para o setor”, diz ela.
A importância da participação do setor empresarial no alcance das metas da Agenda 2030 é confirmado pelo secretário-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, Carlo Pereira, que alerta para a forma como esse conceito é trabalhado nas empresas. “Há algumas organizações extremamente engajadas com o tema dos ODS, ao mesmo tempo em que outras desconhecem a agenda e o seu potencial de contribuição”, diz ele. Na visão do gestor, um dos gargalos para esse desequilíbrio é o déficit de participação das lideranças.
“É preciso que as práticas estejam internalizadas no dia a dia da organização, então, é importante o comprometimento da mais alta instância. Algumas empresas possuem áreas de sustentabilidade estruturadas, mas, na prática, as diretrizes não permeiam toda a companhia e suas diversas áreas. Limitam-se a envolver a equipe relacionada com o tema, que acaba promovendo ações esporádicas. Por isso, é fundamental a inserção dos ODS na estratégia de negócios, seguindo metodologias já reconhecidas. Esse é o caminho”, ressalta Pereira.
Engajamento Empresarial
A ENEL e a MRV Engenharia são exemplos de empresas que estão engajadas e tem a sustentabilidade como um dos pilares da empresa. Em 2018, a concessionária de energia chegou a ser reconhecida como a Empresa Mais Sustentável do Ano, pelo Guia Exame de Sustentabilidade, com destaque para o investimento massivo que a empresa faz nas fontes renováveis de energia, além da preocupação com as alterações climáticas e o desenvolvimento de centenas de projetos de geração de renda, eficiência energética, educação e reciclagem, junto às comunidades.
Na MRV, no âmbito social, um dos programas desenvolvidos pela empresa é o Escola Nota 10, com resultados bastante promissores. Mais de 1.500 alunos já passaram pelas salas montadas nos canteiros de obra, com aulas de alfabetização e informática, além de cursos profissionalizante. Segundo a especialista em sustentabilidade da construtora, Thaís Morais, “esta é uma forma de reduzir a desigualdade social, provendo trabalhadores e a comunidade de informação e conhecimento”, afirma ela, também destacando outros projetos da construtora, como o Energia Limpa e o Vizinho do Bem, este último de relacionamento comunitário, desenvolvido em comunidades do Rio e Grande Rio, com ações de educação, cidadania, saúde e cultura.
O Programa de Relacionamento Comunitário desenvolvido pela MRV ganha corpo com o Seconci-Rio, quem lançou a iniciativa, há três anos, oferecendo atividades que impactam diretamente os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. “Hoje, este é um serviço que entregamos às empresas, o qual tem total alinhamento com os ODS. Quando ela (a empresa) aceita esse serviço, além de estar se abrindo para promover atividades relevantes a seus colaboradores, ou à comunidade do entorno de suas obras, acaba sendo correalizadora de ações que atendem a estes objetivos”, afirma Ana Cláudia.
Carlo Pereira acrescenta que é importante que as empresas que estão engajadas atuem na disseminação dos ODS para sua cadeia de fornecedores. “Como um dos setores mais relevantes para a economia do país, a Construção Civil possui um alto impacto na agenda dos ODS. É essencial que isso seja mensurado para que se possa mitigar os impactos negativos e potencializar os impactos positivos”, ressalta o executivo.
“Como um dos setores mais relevantes para a economia do país, a Construção Civil possui um alto impacto na agenda dos ODS” (Carlo Pereira)
As boas práticas desenvolvidas no setor de construção civil, com vistas aos ODS, foram objeto de pesquisa elaborada pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a qual foi coordenada pelo seu consultor Rafael Tello. O levantamento foi realizado, em 2018, e apontou que, por conta das crise, muitas empresas descontinuaram suas ações de responsabilidade social e que ainda há necessidade de uma maior visão empresarial sobre a importância da sustentabilidade. “Essas boas práticas apoiam os ODS, então, é preciso pensar em educação para a sustentabilidade. As empresas precisam entender que menos resíduo é menos custo e mais lucro e que menos problema social é menos risco e mais lucro também”, destaca.
Sobrevivência do Negócio
“A sustentabilidade é fundamental para o presente e o futuro do setor. Não é uma questão de opção e, sim, de entender que o mercado e o consumidor estão mudando, então, é fundamental se adequar a esse novo perfil”, afirma Nilson Sarti, engenheiro civil e vice-presidente de meio ambiente e sustentabilidade da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
De acordo com ele, promover iniciativas como o uso de energias renováveis, elaboração de projetos de eficiência energética ou investir em tecnologia, é uma forma de encantar o cliente e um investimento que pode ser oneroso, inicialmente, mas que, certamente, retorna com o tempo. “Quem não entrar neste nicho estará fora do mercado, pois o perfil do consumidor pede isso e é uma oportunidade de diferenciar seu produto e de se mostrar de maneira diferente para a sociedade”, alerta Sarti.
Além de ser um fator preponderante de responsabilidade social, a importância do engajamento em ações de desenvolvimento sustentável se reforça na medida em que, até na hora de obter financiamento, o agente financiador está atento a isso, segundo afirma Ana Cláudia, do Seconci-Rio. “Hoje, com vistas à esta geração comprometida com os atributos de sustentabilidade na hora de consumir, a Caixa, por exemplo, possui linhas de crédito diferenciadas para empresas sustentáveis”, lembra ela.
Os bancos são grandes incentivadores dessas ações. Tanto que Nilson Sarti adianta que a CBIC, em parceria com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), está estudando, junto a instituições bancárias, a possibilidade de garantir a redução de juros em empréstimos para construtoras que estejam alinhadas com os ODS. “Na Bahia, o projeto IPTU Verde, por exemplo, reduz em até 7% o valor do imposto, de acordo com os métodos sustentáveis implantados no condomínio. Esses incentivos fomentam o interesse de engajamento da empresa e preserva a rentabilidade da mesma”, conclui.
Guia Anual Seconci 2019