Fraca demanda deixará empréstimos imobiliários aquém do esperado
O crédito imobiliário ficará aquém do esperado neste ano. Apesar do mercado mais competitivo ante a redução das taxas pelos grandes players, a fraca demanda do consumidor ante a desaceleração da economia e o alto desemprego limitará o avanço do setor.
Mesmo com a alta de 7,8% observada nos financiamentos imobiliários em maio contra igual mês de 2018 (de R$ 7,467 bilhões para R$ 8,048 bilhões) as expectativas quanto à reforma da Previdência e à macroeconomia ainda vão interferir no setor.
“O mercado avança tanto quanto aos recursos cedidos à construção quanto aos financiamentos para aquisição de imóveis, mas os números ainda não se equiparam ao que o mercado esperava”, comenta a sócia da consultoria Akamines Negócios Imobiliários, Daniele Akamine.
“Apesar da melhora da confiança empresarial, ainda existem alguns problemas do governo que não estão resolvidos e uma renda baixa na população. Tudo isso ainda interfere em resultados abaixo do esperado”, complementa.
As últimas informações da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) apontam que de janeiro a maio deste ano o montante total usado para aquisição e construção de imóveis com o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) somou R$ 27,656 bilhões, alta de 39,7% em comparação ao mesmo intervalo de 2018 (R$ 19,7954 bilhões).
Segundo o analista da Mapfre Investimentos Anderson dos Santos Barreto, parte da evolução dos financiamentos imobiliários acontece, principalmente, pelo ambiente mais competitivo observado no segmento desde o ano passado.
“Os bancos estão dando o primeiro passo, aproveitando para acessar novos clientes por meio de uma redução dos juros. Mas é importante ressaltar que isso só será sentido se houver uma melhora no desemprego e na economia. Caso contrário, só teremos uma oferta muito forte e uma demanda irrelevante”, pontua.
A exemplo do que tem acontecido no mercado, a Caixa Econômica Federal, líder nas concessões voltadas para imóveis, anunciou no início de junho uma redução em suas taxas de juros para o segmento de 8,75% para 8,50% ao ano.
Na mesma linha, o Santander divulgou, na segunda-feira, que reduzirá o custo de 8,99% para 7,99% na linha até o final de agosto. O Bradesco, da mesma forma, também já tem praticado concessões com uma taxa média de 8,3% ao ano.
Ainda de acordo com os dados do BC, o endividamento familiar, incluindo o financiamento imobiliário, atingiu 43,6% em abril, o maior patamar em mais de dois anos.
A inadimplência do segmento, por outro lado, registrou 1,6% em maio, uma queda de 0,2 ponto percentual (p.p.) em relação a igual mês de 2018 (1,8%). A taxa média da linha de crédito no sistema financeiro nacional ficou em 7,8% ao ano, contra 8,1% na mesma base de comparação.
“Os bancos inegavelmente têm demonstrado maior apetite para o crédito imobiliário. Isso sinaliza uma percepção melhor do cenário e uma visão positiva para o segmento não somente até o fim deste ano, mas principalmente a partir de 2020, quando teremos reflexos melhores das medidas que estão sendo tomadas agora”, afirma o estrategista da RB Investimentos Daniel Linger.
Impactos negativos
Os especialistas entrevistados pelo DCI também ponderam sobre a possibilidade de novas liberações do FGTS pelo governo com o intuito de aquecer a economia. Para Akamine, a intenção do governo pode acabar impactando negativamente o financiamento do setor.
“Apesar de o consumidor estar mais consciente atualmente e de já registrarmos uma redução no nível de distratos, nos preocupa a intenção do governo de fomentar o comércio por meio do FGTS. Essa liberação do fundo para outros vieses pode acabar reduzindo os recursos disponíveis e atrapalhando um pouco do crescimento”, opina a executiva.
O uso do fundo de garantia para financiamentos imobiliários ultrapassou os recursos usados do SBPE em 2017 e, desde então, tem sido a modalidade mais barata e atrativa para os consumidores.
Segundo o professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Tiago Sayão, porém, é preciso “separar” as possibilidades. “Haverá um aumento temporário na renda da população que se transformará em quitação de dívidas e consumo imediato. Não é algo simples, mas se a maioria dos consumidores optar pelo uso do recurso, podemos, sim, ter uma redução no montante disponível para aquisição de imóveis”, acrescenta o educador.