Desafios da Indústria 4.0 para a Segurança e Saúde no Trabalho

Em uma era cada vez mais digital surge o conceito da Indústria 4.0, considerada a 4.ª revolução industrial. O termo foi usado pela primeira vez na Hannover Messe, em 2011, pelo governo alemão, que desejava promover mudanças em relação à maneira como as fabricas operavam. Assim, esse conceito se baseia na descentralização de processos, a partir do uso da automação, big data, internet das coisas, wi-fi e outras tecnologias.

A indústria 4.0 poderá tornar o trabalho mais seguro, por meio de uma análise de risco contínua por aplicação de tecnologia aplicável à roupa ou ao equipamento, potencializando a monitoração dos trabalhadores em ambientes de trabalho perigosos, onde possam estar expostos a condições extremas (calor, gases, chamas etc). Esta monitorização pode também ser aplicável a indicadores de saúde/bem-estar do trabalhador (frequência cardíaca, tensão arterial, temperatura etc). Com isto, há alertas em tempo real que permitem parar o trabalho e adequar as medidas de prevenção, restaurar procedimentos de segurança e evitar lesões. Contudo, os trabalhadores podem sentir a sua privacidade invadida, devido ao uso de monitores e sensores.

Ao mesmo tempo, o uso de ferramentas digitais para monitorizar o comportamento, o desempenho e a produtividade dos funcionários poderá criar uma atmosfera de incerteza ocupacional e de invasão de privacidade. Além disso, poderia reduzir o contato entre colaboradores-chefias e colaboradores-colaboradores, produzindo um impacto negativo, a longo prazo, na saúde. Por outro lado, a maior mobilidade, flexibilidade e acessibilidade das máquinas/equipamentos possibilita trabalhar em qualquer lugar, a qualquer momento, gerando equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal.

A disponibilidade de robots, ou “cobots” (robots colaborativos), para executar tarefas como pintura, soldadura e montagem, onde é preciso ser aplicada mais força, persistência e precisão, promove o aumento da qualidade do produto final, bem como a produtividade do processo, diminuindo as lesões músculo esqueléticas e traumáticas nos trabalhadores.

Na indústria 4.0 se espera que os trabalhadores ajam mais por iniciativa própria, tenham uma maior capacidade de organizar o seu trabalho e, com isto, mais responsabilidades. Trabalhadores especializados serão necessários, devido à necessidade de lidar com o mundo digital, que é normalmente mais instintivo às gerações mais novas, levando, assim, a uma alteração demográfica nas indústrias, o que se pode tornar inaceitável numa perspetiva ocupacionalmente inclusiva.

Uma produção mais flexível deve permitir que os colaboradores obtenham um equilíbrio realista entre vida profissional e pessoal, em que o desenho organizacional, os direitos dos trabalhadores e as oportunidades de formação recebem a devida consideração. Ao avançar em direção à criação de um valor industrial sustentável, a indústria 4.0 deve ter em consideração os “prós e contras” para a saúde e segurança dos trabalhadores. Para enfrentar os riscos emergentes e gerir o impacto ético da inovação, será necessário introduzir medidas práticas, preventivas e de proteção focados no constante desenvolvimento profissional e formação em saúde e segurança ocupacional.

 

Fonte: Security Magazine, por Carla Ramos, técnica ambiental de segurança sanitária da Robert Bosch S.A.

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