Depressão no ambiente de trabalho
Rotinas exaustivas, pressão por excelentes resultados e a necessidade de melhorar continuamente o desempenho. Esses são apenas alguns dos fatores que geram estresse aos trabalhadores e afetam sua qualidade de vida e podem causar uma grave doença: a depressão.
A psiquiatra Silvia Jardim, coordenadora do Programa de Atenção à Saúde Mental dos Trabalhadores (Prasmet/Ipub/UFRJ), aponta a depressão como o grande mal do século. “São tempos em que as pessoas se queixam da falta de trabalho, da ameaça de perdê-lo ou das pressões a que se submetem para preservá-lo”, diz.
Não é por acaso que a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que, até 2020, a depressão passará da 4ª para a 2ª colocada entre as principais causas de incapacidade para o trabalho no mundo. Estima-se que 121 milhões de pessoas sofram com a doença, sendo 17 milhões só no Brasil.
Em 2013, um levantamento feito pelo Ministério da Previdência Social apontou que mais de 61 mil pessoas receberam auxílio-doença por causa da depressão, número 5,5% superior ao de 2012. São Paulo é o recordista, com 18.888 benefícios concedidos. Minas Gerais (8.628) e Rio Grande do Sul (7.835) completam a lista. De acordo com o Senado Federal, a depressão é hoje a segunda causa de afastamento do trabalho, só perdendo para as lesões por esforço repetitivo (LER).
O médico e professor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, Duílio Antero de Camargo, afirma que o clima organizacional influencia nesse processo. “Hoje, nós temos a questão do estresse ocupacional, causado pelo ritmo frenético que temos em relação a tudo, principalmente no trabalho. O enxugamento que houve nas empresas, a cobrança excessiva de metas e os conflitos que existem no próprio mundo do trabalho implicam o estresse ocupacional”, diz.
E por mais que não se possa afirmar que o trabalho é a causa exclusiva da depressão, já que vários motivos também desencadeiam a doença – como fatores genéticos, biológicos e psicossociais -, mesmo assim o trabalho contribui de forma decisiva para o início ou agravamento do quadro.
A influência do clima organizacional
Em linhas gerais, podemos dividir os ambientes de trabalho em três realidades diferentes: negativa, neutra e positiva.
Os ambientes negativos podem surgir por influências internas ou externas, que vão desde crises econômicas até má gestão. É comum encontrar funcionários insatisfeitos e inseguros com relação ao futuro e um clima de pessimismo generalizado. Em um cenário como esse, os empregados não assumem responsabilidades além das que já possuem e, mesmo assim, temem pelos resultados. O sentimento geral é de que nada vai dar certo, mesmo com o esforço de todos.
Nos ambientes neutros, o que impera é a apatia. Ninguém se importa em saber para onde as coisas estão caminhando. A ordem é fazer apenas o que você tem para fazer e não se envolver demais, seja com o trabalho ou com as pessoas. Críticas e elogios são objetos raros de se encontrar, já que o sentimento principal é o de que “não tenho nada a ver com isso”.
Do outro lado do espectro temos os ambientes positivos. Os empregados têm prazer em se relacionar sem julgamentos, com gentileza e deixando cada um fazer o seu melhor. Não é o indivíduo que importa, mas sim o coletivo. Inspiração, produtividade e criatividade são apenas alguns frutos de um cenário como este.
Só pelas descrições é possível perceber qual ambiente gera mais problemas para o trabalhador. A OMS diz que “a adesão aos princípios dos ambientes de trabalho saudáveis evita afastamentos; minimiza os custos com saúde e com a alta rotatividade; e aumenta a produtividade em longo prazo, bem como a qualidade dos produtos e serviços”. Além disso, um estudo realizado na University of Manchester’s Business School mostrou que as pessoas que se relacionavam com líderes com traços psicopatas ou narcisistas tinham menor satisfação no trabalho e tiveram pontuação alta em uma medida clínica de depressão.
Como identificar o problema
A primeira coisa que deve ser feita é diferenciar a tristeza da depressão. Enquanto a primeira é apenas um estado momentâneo, a segunda é uma psicopatologia que leva as pessoas a viver um estado constante de desconforto e angústia. É uma doença grave e que precisa ser diagnosticada e tratada por um profissional credenciado.
A depressão pode se manifestar de várias maneiras e os sinais podem variar muito de pessoa para pessoa, mas algumas características aparecem com mais frequência. Algumas delas são:
• Desânimo, cansaço e indisposição;
• Ansiedade, preocupação, insegurança e indecisão;
• Sensação constante de culpa, inutilidade, incapacidade, desamparo e solidão;
• Alteração no sono – tanto a insônia quanto o excesso de sono -, cansaço fora do normal;
• Alteração no apetite – excesso ou falta dele;
• Dificuldade de concentração e falhas na memória;
• Ideias de morte ou suicídio;
• Tristeza e/ou irritabilidade persistente, inquietação e isolamento social;
• Perda da capacidade de sentir prazer nas atividades que antes gostava de fazer, seja no trabalho ou no lazer, inclusive na vida sexual;
• Choro, insatisfação, afastamento das atividades sociais, perda de energia, preocupação excessiva com os problemas.
O que fazer
As empresas passaram a entender a doença e a lidar melhor com os funcionários que convivem com ela. O ponto mais importante diz respeito à criação de um ambiente de trabalho saudável. Investir em programas de qualidade de vida, incentivar a realização de atividades físicas e criar ferramentas para denunciar os abusos são apenas algumas das ferramentas que podem ser usadas para criar um bom clima organizacional.
Mas nada disso afasta a necessidade de acompanhamento profissional. Algumas empresas disponibilizam profissionais especializados a seus funcionários. Quando isso não acontece, é preciso entender o lado de quem sofre com depressão e encará-la como realmente é: uma doença que merece cuidados.