Construcap aposta na nova concessão
A Construcap — vencedora da concorrência pela gestão do Parque do Ibirapuera — planeja revitalizar um dos principais símbolos da capital paulista, com recuperação do patrimônio histórico e ampliação da oferta das atividades culturais, e os outros cinco parques da cidade de São Paulo dos quais terá concessão por 35 anos. Estão previstos investimentos totais de R$ 180 milhões, no período, com desembolso de R$ 105 milhões nos três primeiros anos.
A empresa venceu a disputa pelas concessões, com a proposta de outorga de R$ 70,5 milhões, em maio e a previsão é que assina o contrato até outubro (prazo de seis meses). A Construcap vai atuar por meio de uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), cujo nome ainda está em fase de definição. Há expectativa de retorno dos investimentos em dez anos. Estima-se que a Prefeitura de São Paulo deixará de gastar R$ 1 bilhão com os parques, ao longo de 35 anos, e que o poder público receberá R$ 570 milhões em tributos, como Imposto de Renda, ISS, além de PIS e Cofins.
Os investimentos começam pelos parques Lajeado e Tenente Brigadeiro Faria Lima. No sétimo mês, será a vez do Ibirapuera e do Eucaliptos. Os dois últimos — Jacintho Alberto e Jardim Felicidade — serão 13 meses depois. Os desembolsos serão gradativos.
Pela sua dimensão, de 1,3 milhão de metros quadrados, o Ibirapuera receberá R$ 85 milhões nos três primeiros anos. Nos planos da Construcap para o principal parque da capital paulista, estão a criação do Museu do Folclore, no Pavilhão das Culturas Brasileiras, a recuperação dos museus em funcionamento e da área da marquise, a manutenção da flora e da fauna existentes, a reforma dos banheiros e de equipamentos de ginástica, a oferta de wi-fi de alta potência e a exploração do estacionamento.
“Queremos que o Ibirapuera volte a ter eventos como a exposição dos Guerreiros de Xi’an. Vamos trazer o melhor do mundo para os brasileiros e exportar o que é produzido aqui”, conta Samuel Lloyd, responsável pela concessão dos parques.
Roberto Capobianco, presidente da Construcap, diz que, diferentemente de informações que circularam na mídia e em redes sociais — algumas consideradas fakenews —, a empresa não vai cobrar ingressos para entrada no Ibirapuera nem nos demais parques. Já a entrada nos equipamentos, como museus e o Planetário do Ibirapuera, continuará a ser cobrada.
Para Capobianco, o Ibirapuera não pode ser um parque que “só as elites possam frequentar”. “A Oca está sub-utilizada, e o auditório é elitizado”, afirma o presidente da construtora. A concessionária pretende expandir, por exemplo, as apresentações de arte para além dos equipamentos. “Vamos democratizar o acesso à arte e à cultura. Hoje, o parque é muito usado para a prática de esportes”, diz Lloyd. A concessionária quer também de aumentar a oferta de atividades no Planetário.
O público que frequenta o Ibirapuera é estimado em 15 milhões de pessoas por ano. Durante a semana, há grande movimentação de pessoas no início da manhã e a partir do fim da tarde. A Construcap quer fomentar eventos, de segunda a sexta-feira, entre 10 horas e 17 horas, para aproveitar melhor a capacidade ociosa dos equipamentos existentes nesse período e atrair mais visitantes.
Será lançado um aplicativo, de acordo com os executivos, que permitirá que o visitante se localize no Ibirapuera e tenha acesso a todas as atrações previstas. Outro plano é melhorar o serviço de alimentação e bebidas do Ibirapuera e reposicionar as lanchonetes, atraindo empresas com identidade com o parque. “Vamos oferecer alimentação de qualidade e preço compatível com os todos os usuários do parque”, diz Capobianco.
A empresa prevê 1.100 funcionários diretos no auge dos investimentos nos seis parques, quando será necessário grande volume de obras. Posteriormente, o total de funcionários diretos cairá para cerca de 700 pessoas.
O empresário, que vê com entusiasmo a revitalização do Ibirapuera — diz que a concessionária terá de seguir as regras definidas no edital, que proíbe descaracterização. A instalação de equipamentos, como roda-gigante e tirolesa, por exemplo, é proibida.
O início das atividades depende da aprovação pelo município de São Paulo de planos diretores para os parques. Procurada pelo Valor, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, informou que o Plano Diretor do Ibirapuera encerrou sua consulta pública em 15 de junho. “Está em curso um diálogo com o Conselho Gestor da unidade para alinhar algumas questões, e o prazo para sua conclusão é agosto”, informou a secretaria, em nota. Os planos dos demais também estão em curso.
A Construcap CCPS Engenharia e Comércio faz parte do Grupo Construcap, formado também pela Minas Arena – Gestão de Instalações Esportivas (responsável pela reforma e modernização do Complexo Desportivo Mineirão, em Belo Horizonte), Companhia de Concessão Rodoviária Juiz de Fora-Rio (Concer, com participação minoritária), CMO Construção e Montagem Off-Shore S.A. e Inova Saúde. O faturamento equivalente do grupo Construcap, no ano passado, foi da ordem de R$ 900 milhões, disse o empresário.
Em 2016, Capobianco foi preso na Operação Abismo, uma das fases da Lava-Jato. O executivo foi condenado pelo então juiz Sergio Moro a 12 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa em contratos relacionados a uma obra de centro de pesquisa e desenvolvimento (Cenpes) da Petrobras, realizado por um consórcio. O empresário recorreu e aguarda em liberdade o julgamento de segunda instância. Ele tem expectativa de ser absolvido no Tribunal Federal da 4ª Região (TRF-4), assim como ocorreu com sua empresa, em 2017.