Construção civil já abriu mais de 200 mil vagas este ano
Enquanto o mercado de trabalho reage lentamente, canteiros de obras abrem vagas. O total de trabalhadores formalizados na construção civil já supera o patamar pré-pandemia, alcançando 2,48 milhões de trabalhadores com carteira assinada, em julho, avanço de 12,7% sobre o registrado no início de 2020.
Somente entre janeiro e julho deste ano, foram criados 208 mil empregos no setor, melhor resultado desde 2012, considerando dados do Ministério da Economia.
A construção se mostra um dos raros motores da ainda limitada redução da taxa de desemprego. No trimestre encerrado em junho, ficou em 14,1% (14,4 milhões de desempregados), segundo o IBGE, recuando dos 14,4% dos três meses terminados em março.
A principal fonte do crescimento da construção é o imobiliário residencial, com a retomada forte de lançamentos e vendas. Mas perto de 30% das vagas do setor estão em obras de infraestrutura, com destaque para o saneamento básico, com os investimentos privados das concessões viabilizadas pelo novo marco regulatório, aprovado em 2020.
O esforço para universalizar água e esgoto no país até 2033 deve gerar 6,2 milhões de empregos diretos no país, segundo a Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), ao longo dos contratos firmados a partir do segundo semestre de 2020.
Haverá outros 2,9 milhões de empregos indiretos em setores como o de equipamentos. É um impacto de longo prazo, observa Percy Sores Neto, diretor executivo da Abcon:
— Nos serviços de saneamento, diferentemente da construção de uma hidrelétrica, por exemplo, o investimento é muito forte nos oito primeiros anos, em média. Mas não acaba. A população cresce e é preciso ampliar a rede e os empregos na operação.
Crescimento nas duas pontas
Na construção de imóveis residenciais, crescem as duas pontas: a moradia popular, o segmento mais resiliente, e o alto padrão.
Rafael Menin, presidente da MRV, especializada no segmento econômico, informa que a empresa contratou 3.500 pessoas este ano, alcançando 30 mil colaboradores, a maior parte em vagas diretas.
Ele explica que os anos de 2014 a 2016 foram muito difíceis para o setor em geral, que é muito dependente do crédito, pelo taxa de juros alta e a recessão impactando o poder de compra do consumidor.
A recuperação começou gradualmente, em 2018, e aqueceu forte em meados de 2020. Mas ele reconhece que, este ano, houve uma leve queda no setor de imóveis populares de abril a junho.
No outro extremo, a RJZ Cyrela avança no alto padrão no Rio. Entre o início deste ano e fevereiro de 2022, vai bater R$ 1,3 bilhão em valor de vendas de novos projetos na cidade, conta Carlos Bandeira, diretor de incorporação da empresa.
Ele destaca que, mesmo na Barra da Tijuca, onde houve uma superconcentração de oferta antes da recessão, os lançamentos foram retomados. Para ele, a taxa de juros ainda não impacta o setor porque o valor dos imóveis não voltou ao patamar de 2014.
— De julho de 2020 para cá, fizemos três lançamentos de quatro grandes incorporações que faremos na região do Golfe Olímpico, na Barra. O Latitud, o primeiro deles, foi lançado com o metro quadrado a R$ 11.500, chegando perto de R$ 113 mil agora. Nosso último lançamento no bairro antes da crise, em 2014, na Península, tinha o metro quadrado a R$ 14.500 — pondera ele.
O Globo (Economia)